quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Argumentando salmos.


.........................................................Por Anaíra Mahin Valadares Galvão
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Era uma vez uma coleção de arte indigena, chamada Coleção Etnográfica Carlos Estevão de Oliveira, as partes dela vêm de muitos lugares diferentes, hoje ela mora no Museu do Estado de Pernambuco, mas, cheia das faunas, floras, e barros do chão de outros tantos cantos.
Podemos perguntar qual o sentido desses objetos, habitantes de tantos cantos, terem se encontrado juntos e em contrapartida, terem tanto tempo ficado em desencontro com a morada recente, reservados à reserva técnica, ou mesmo, aos porões da casa grande do Museu.

O nome da coleção é o nome do camarada que colecionou, ou seja, ao longo de sua vida foi acumulando objetos, fotos, escritos, e vivências... Tudo relativo aos seus contatos com os mundos da cultura. Esse moço, Carlos Estevão, era sensível a muitas coisas belas, assim, era poeta, ecológo, foclorista, pai... E várias antropologias mais. Ele trabalhavou em um outro museu, lá em Belém do Pará, e numa cidade chamada Alenquer, exerceu o cargo de promotor público, nessa mesma cidade, tempos depois, nasceu nosso professor e orientador ReNato Athias.

Estamos, então, trabalhando nesse trajeto em memória, pesquisa, documentação, e etecéteras, mergulhando nesses afetos guardados. Na equipe, nomes bonitos, tupis, latinos, gregos, Celtas, germânicos... Então, as Nilvânias, os Wilkes, as Robertas, as Geórgias, as Taíses, e as Anaíras, podem ir se ultilizando do sentido de quem orienta, que de re-natos, vamos nos fortalescendo a cada novo sol, em cada fogo novo.

Viemos, pois, abindo os fevereiros de 2009 nesse desenvolvimento-envolvimento com a poética dessa coleção, e eu, particularmente, no meu ritmo lento, enxergo o brotar de pequenos jardins em cada gaveta que acesso, tudo vai reflorindo aos poucos, e vou orvalhando em sóis simbólicos junto a esse reflorestar semãntico.

Dessa maneira, a agonia álmica de saber que me envolve, comunga tensa a ciência que salva e o laboratório, no processo de construção de teorias e no querer de contar, e, para isso, os métodos organizacionais pulsantes em expressar.

Assim, vão chegando os exus que mensageiam, e as Proserpinas escuras vão encontrando máscaras antigas, e furando as sementes velhas, vão construindo e espiralando outras primaveras.

Por fim, podemos também pensar em o que temos encontrado aqui nessa coleção? Talvez, em essência, o mesmo que encontrava Carlos Estevão em seus contatos com os "outros": a si mesmo. Portanto, ando me encontrando muito, e a alma, em um mover translúcido, se envolve e desenvolve e reenvolve, tudo vai tomando corpo.

Pois, que o sentido desse trabalho seja a revitalização das membranas que compõem o rizoma humano, que essa diáspora de objetos cumpra alguma função social que reúna, que sirva pra que se entenda que a luz branca do sol se revela em cores na fluidez da chuva que transita os mundos.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

COM CIÊNCIA DE COMADRES.

http://www.youtube.com/watch?v=dnprMQPfZ20
O texto que segue foi feito pelas comadres Anaíra Mahin e Luciana Rabêlo em 2008:


Minha cumade como vai
Que bom é vê-la outra vez
Me conte das novidades
De tudo que você fez.

Cumade estou preocupada
Com a terra com a natureza
O povo está todo doido
Estão perdidos com certeza
E as matas vão se acabando
E as águas escasseando
Chegamos nas profundezas.

Cumade que fossa é essa?
Vamos se animar agora
Eu sei que o planeta chora
Por conta dessas trepeça
Que é necessário ter pressa
Pra clarear o caminho
Que ta muito cheio de espinho
Feito um cristo bem sofrido
Mas nem tudo está perdido
Olhe lá seu menininho.

É mesmo minha cumade
Ele me traz esperança
Mas, me diga, essas criança
Viverão com qualidade?
Como ter felicidade
Com tamanha violência?
estamos longe da essência
De nossos reais valores
E aí nos restam dores
Pra viver essa existência.

O mundo se esquenta, parece que cora
Mais vacas em pastos pro abatimento
No meio da mata dois mil ferimentos
Navalhas constantes na fauna e na flora
A terra planeta a muito que chora
De raiva de ver o câncer brotar
A célula gente a degenerar
Devora tal praga seu eco (in)finito
E aí da vontade de dar é um grito
Aos deuses da terra, do céu, e do mar!

Cumade, vixe Maria
Eu chega me arrepiei
Isso é sonho de uma vida
Vida que eu sempre sonhei!

É mas uma vida assim
Carece muita mudança
Não podemos mais deixar
Que o mercado marque a dança
Pois o neoliberalismo
Cada dia mais avança.

Uma outra economia
Com mais solidariedade
É disso que precisamos
Na nossa sociedade
Humanos mais conscientes
Pessoas bem mais decentes
E longe a desigualdade.

É tamanha a minha empolgação
Em falar desse assunto minha amiga
Não agüento no mundo tanta briga
Tanta falta de amor e compaixão
Eu proponho que a gente una as mãos
Para, juntas, plantar mais poesia
Equilíbrio, saúde... Até que um dia
A maldade pipoque numa fogueira
E o fogo ao subir numa clareira
Traga luzes provoque uma alquimia.

Transmutados os seres vão luzir
Lumiar um ao outro em comunhão
Enxergar no caminho uma missão
Entregar-se ao divino e seguir
E sabendo direito a onde ir
Soltaremos as tranças na ventura
Água, azul, verde, vento, flor, ternura
Aprendendo o poder de nossos passos
Ampliando o presente em gestos gratos
Desse eu: criador e criatura.

...

Voltando a realidade
Cumade, estou indo embora
Eu sei, o planeta chora
Mais eu vou pra faculdade

Então ta minha cumade
Até o ano que vem
Que sirvam de alguma coisa
Esses versos do além
Nossas preces sejam ouvidas
Muito bem compreendidas
Até logo, paz, amém!