terça-feira, 8 de junho de 2021

sou um peito


Sou um peito que amamenta
Se nego por vez esse sumo
Meu filho me diz com raiva
"Não queio socê"
E me chuta e esmurra

Quando um peito seca
Ele procura outro
Quando o outro seca
Ele procura o um...
Quando os dois secam
Ele pede: "peito gande,
Queio peito gande".

Como se um peito gigante
Fosse descer numa nave espacial
Ou surgir do âmago
Ou surgir da terra

"Por que tu tá chorando, mãe?"
A mais velha pergunta
"Porque as mães também choram", respondo
E se segue repetida a pergunta
Até que transfira a ela
a questão que me impõe
"Você sempre sabe por que
está chorando, filha?"
"Sei" , ela responde,
"Quando alguém me chateia...
Quando meu pai desliga a tv"...
"E você mãe, por quê?"
...
Faz 6 anos que amamento
Com o intervalo apenas
De um tempo de gestação...

Doamos nossa estrutura
Os sumos de nosso ossos
E somos tão invisíveis
Com invisíveis esforços
...
Sou a vaca e a cachorra
O leite em pó que azeda
E vai pra pia sem pena...
Sou pessoa que amamenta.
Um esforço invisível
Que o geral acha inútil
Mas "A vida não é útil"...










domingo, 14 de fevereiro de 2021

relato doido de parto de Esmeralda

Relato de parto de Esmeralda

Mainha dizia que quando eu nasci, depois de toda uma saga, comigo no colo, a primeira coisa que fiz foi segurar a orelha dela. Um reflexo, sim, de todo modo estava eu ali, a chamando para a escuta... Quando Esmeralda nasceu, de um parto casariano, me mostraram ela, feito um vulto, rapidamente, na loucura do momento, pensei - porque ela parece com a avó?. Era a avó paterna a avó que minha mente se referia ali. Foram os primeiro traços que observei naquela aparição relance que seguiu com as enfermeiras enquanto eu apagava para ressurgir fora daquela sala de cirurgia. Quando tornei estava Esmeralda sendo banhada mais a frente, a esquerda, não pensei nada naquele momento de mistura. Os barulhos da água trabalhavam junto com a voz da atendente que falava ao telefone é parecia ser de mim, da conduta das pessoas de minha família que estavam na espera... Esmeralda veio ao meu colo. Moças aparentemente residentes vieram, adentraram meu campo energético de modo estranho... senti-me um corpo de massa de modelar em uma mesa de escola primária... Esmeralda estava calma, buscava o peito muito sutilmente... Sentia a conexão acontecendo. Aquele Serginho miúdo era um milagre ali fora. Boquinha fina, seu respirar miúdo... e a agilidade karateca daquele mundo de bracinhos, pernas, dedinhos...
Comecei pela graça do encontro, faltou situar. Era quase setembro de 2014. Morávamos em Olinda, em um beco muito agradável no bairro do Amparo. A casa foi uma indicação repentina que veio na gravidez, que já tínhamos tendo uma ligação pelo fato do acompanhamento no Cais do Parto... Sei que a noite que precedeu o rompimento da bolsa e a nossa saga parturiente foi uma noite festiva, de muitas bênçãos. Na casa de Habib e Valéria acontecia um aniversário coletivo, cheio de gente querida e arte, a barriga foi muitíssimo tocada e bem energizada, e Esmeralda respondia com dança. O retorno para casa e na madrugada o tampão se destampava. Zero contratações. Mensagens para o Cais e uma euforia breve e um não saber de primeira viagem... Amanheceu com muita mulheres chegando. Tesouras sendo fervidas, banho, música, insenso, oráculos... Caminhei com Patty por Olinda. A intensão era que as ladeiras amadurecessem a descida da pequena. Seguia sem contrações. Pensava umas sandices. Dispensava. Já em casa, deitada na cama, arrodeada de Karla, Marla, Patty, Roberta... me emocionei com a chegada de Cecília. Eram muitas duplas, cada uma com sua força ali e no percurso. A já cumade Luciana filmava e legava detalhes... Rildo cantou uma música que fez durante a gravidez. Sitava bruxas, sereias, e ovos no seu chapéu... Roberta que também esperava um bebê me ajudava a viver essa dança, tão complexa da alma, a qual o corpo parecia resistir... Ia ser o primeiro parto de Karla caso tivesse sido ali, foi o primeiro parto que ela encaminhou.
No fim daquela tarde nos preparamos para o segundo plano. Lu comadre nos levou para o CISAN por indicação do Cais. No caminho liguei para Lívia... A corrente foi gigante, muitas bruxas na energia dessa chegança. Tinha uma errância bonita nesse processo. Veio a cunhada Veruska, vieram tio Fernando, Tia Dorinha e o primo Gabriel... Não fomos de cara aceitos no Cisan. Lá tentaram nos mandar para a maternidade Barros Lima em Casa Amarela, mas depois de uma conversa com uma médica antipetista fomos redirecionados a encruzilhada. E depois de um vaievem de plantões, indução de parto, e um quase parir que não pária... fomos pra faça.
Subi querendo tentar, Cecília me acompanhou, Rildo não pode entrar. Lá era um largo corredor cheio de camas e mulheres esperando a hora de parir. Pra parir mesmo tinha uma sala de parto, então, quando alguma situação evoluisse pra um coroar é que seria o caso a entrada do pai no jogo... o desespero era grande, e desse modo uma ausência cabia, no medo, na antecipação, nas crenças limitantes... cansaço era boia. Vai pra bola, fica de cócoras, faz força, sem gritar... fiquei feito uma perua tonta, andando de uma lado para o outro, quando vinha a contração parava onde estivesse, naquele corredor não tão apropriado. Uma enfermeira que talvez chamasse Larissa me ofereceu um banho, foi um dos momentos que me senti sendo acolhida... Larissa me olhava nos olhos, sua força foi um respiro naquele contexto. Luciana rendeu Cecília e foi ela que estava lá quando já tinha um cabelinho aparecendo. "Sua filha vai nascer, não tem nada de errado" ... E nessa estância ela quase nasceu, e nasceu, do jeito dela, do jeito que foi, com as benção de Iasã.