segunda-feira, 24 de junho de 2019

Fogo

Velho fogo
Me protege e guia
Me limpa
Me transforma
Sábio avô
Xangô
São João
Fogo que liberta o peito
Quentura boa
Aquece o caminho do abraço
Fogo voínho terno
Carinho eterno
Inácio, José, Manoel
Aqueles que nem conheci
Pais dos pais dos pais
Dos avós, dos mais
Aqueles nem datados
Do passado ancestral
Sabedores antigos
Dos umbrais
Que o fogo universal nos conecte e cure
Vossos corações amplos e esquecidos
Sejam aquecidos
E em nós, seus ramos
Sejam amor
Pleno e livre
Corajoso e renascido

Morcego

Naquela noitinha o sino bateu
E o morcego que me abrigava
Levou com ele um pedaço
Me senti perdida
Não dava pra saber bem
O que ele havia levado
O sino badalou bem na hora
Ele sacudiu as asas no vento, na noite,
Entre as folhas dos pés de pau
Uma sombra volante
Levou aquela parte
Poderia dizer que foi a alma que levou
Porque meus olhos ficaram dispersos
Passeando pelos sentidos
Mas ainda uma parte guiava
Meio cega, buscava guia
Agarrando pequenos sinais
Me experimentei na inocência
Quis cada colo
Com medo dos monstros
Receosa do mal
Envolta de Lua
Com o gosto do Caos
Mãe-Pai
Cadê meu envoltório?
Me senti desprotegida
ao mesmo tempo
tinha uma aura de coragem
Naquela loucura
Tinha um coração se buscando
Tinha uma procura ativa
Na raiz do medo
Tinha eu
Feito uma Batgirl
Abraçada pela grande mãe morcego

Ou pelo Diabo

Ouvindo as badaladas

Me acordando à sombra e luz
No útero um estampido
Revolvendo a Xamã 

Na morte vida
No fio da Terra
Na Grande Mãe