terça-feira, 20 de outubro de 2009

o toré crescente



à jornada de estudos sobre etnicidade

Anaíra Mahin Valadares Galvão.

Licenciatura em Ciências Sociais.

Universidade Federal de Pernambuco.

“Entre palmeiras e urnas funerárias”:

Pensando a poética da Coleção Etnográfica Carlos Estevão de Oliveira.

Resumo:

No âmbito das coleções etnográficas, partindo de minha experiência de imersão no Projeto de: memória, documentação, e pesquisa com a Coleção Carlos Estevão de Oliveira, trazer reflexões amplas a respeito dos contextos históricos que acabaram deixando essas coleções na invisibilidade à importancia da existência dessas coleções nos dias de hoje. Pensando na quantidade de coisas que essas coleções nos têm a dizer, e que temos a significar nelas, entendendo - na amplitude semântica, na dimensão ‘almanáquica’, no potencial transdisciplinar que há nesses conjuntos diversos - a fortuna deles enquanto campo de pesquisa. Pensar ainda - prismando dos afetos - 'raízes' e significados dos processos e das escolhas que ao longo do tempo têm sido fundamentais para compor os caminhos e os contextos atuais desses objetos etnográficos, entre processos de patrimonialização e estorvo.


ALmanach


poema feito para compor a capa de um folheto sobre Almanaques, pro evento de astrologia da semana de ciência e tecnologia.


A partir da ciência estelar
Lê-se a voz do princípio da ciência
Mãe - a terra - que é chão por excelência
Amorosa, transmite o B- A, BÁ
Norteando nas artes do plantar
Ampliando a semente e o seu gozo
Quando vem em um vento tempestuoso
Umedece estremece cada grão
Escurece e clareia a imensidão
Sorte alada da Poupa, e o seu pouso.

Soluções das clarezas intuitivas
Ordenadas na força do que vem,
Burilantes das buscas criativas
Resvalando os cenários das cativas
Estruturas mentais dos rios de além.

Almanaques fluindo dos umbrais
Luminosos os grãos da ampulheta
Mares certos, e sons de escaletas
Arenosos, desertos, e gerais
Navegantes divinos imortais
Arabescos sertões de outros egitos
Quão os berros vibrantes dos cabritos
Universos dedilham finas cordas
Então cá explicamos pelas bordas
Sábias cores dos quadros infinitos.


Luas e sóis perpétuos para vocês!

Anaíra Mahin
Outubro de 2009, Recife.

sentimento MAis TERNO




quinta-feira, 15 de outubro de 2009

por falta do que dizer

ele xingava aquela mulher de "demente", diariamente
nunca diferente

um desses dias, ele escovou os dentes
e saiu de casa igual
no entanto, sofreu um acidente...

ficou bem mal,
meio demente.

aquela, a quem ele xingava todo dia
limpava seu cocô
não achava ruim mexer com merda


ele viveu ainda um pouco,
e morreu bem limpinho.

eu-cientista
outubro, 2009

da conservação


esses dias tive fazendo parte de um curso lá no estágio no museu, "acondicionamento, conservação e restauro de acervo etnográfico". a professora restauradora chamava Mônica e era de Goiás, parecia um pouco comigo, quando chegou por lá meio me assustei, parecia com Maria de Madeiros, aquela atriz lusitana que atuou, junto com Uma Thurman, num filme sobre Anais Nin, aquela escritora febril. muitas coisas loucas nesse curso, aprendemos que tem uma caneta que é de "qualidade arquivística", e um monte de material louco que se usa, uma tal de uma "espuma de polietileno espandido" é um deles, que por ser inerte é ideal para guardar coisas, já o PVC não é recomendável, libera uns ácidos loucos. foi dito lá que não se usa mais timol de foma alguma, pois é altamente tóxico, e que tem tipos papel que não são muito legais para salva-guardar certas coisas, que soltam muitos gases, muitos vapores orgânicos. aprendi que papel bom pra quardar foto é o "papel japonês", e que o material etnográfico japonês também é muito delicado e bonito, vimos inclusive, através de uma projeção na parede, um abano bem antigo cheio das firulas, todo delicado, construído nele um dragão escuro num céu azul e madrepérola, com pedaços de pavão misterioso já morrido há tempos. Essas coisas de museu são meio engraçadas... essas guardagens. esses trabalhos de reserva técnica...lá em casa tá cheio de documentos e esses materiais de qualidade arquivistica devem ser carros pra burro. mas não quero me antecipar a sofrer de véspera como um pobre peru de festa... - nunca ouvi falar que tinha cola de coelho, cola animal? nunca tinha sabido disso, cola de peixe, cola de boi... tem gente que não deve gostar nada disso. eu não sei se gosto ou não, não pareço ligar muito, acho que os coelhos não devem gostar nada. Um natal desses, eu tinha uns 7 ou 8 anos, minha mãe tinha separado de meu pai, tinha fugido comigo, tavamos em Minas Gerais, lá numa prima dela que tinha um marido bonzinho e velhinho chamado miguel, era natal, já disse... separação des pais, criança, menina... foi um trauma ver aquele leitão assado com maçã na boca... nunca tinha visto tão explicitamente uma comida com cara, pata, orelha, nariz, rabinho... dei um grito apavorado, gasguito... devem ter saído ali outras pauras. acho que falei com meu pai naquela noite mineira... o marido da prima de minha mãe, o senhor Miguel, gostava de ler gibis infantis, e de instante-em- instante tocava um bip de um remédio que ele tinha que tomar. a filha dela já era adulta... tinha no quarda-roupa umas bonecas grandes e louras do passado, tinha até uma Suzi, bem Marta Rocha.

eu tava falando de que mesmo?

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

em meia taça!

sim...
autores coadjuvantes:

manuel de barros escrevendo de barba
mário de andrade sorrindo de óculos
paulo micheloto arengando adesso
thiago de mello paraense amoroso
pedro almodovar colorindo o lábio
roger bastide abraçando um toco
paulo freire aprendendo o barro
levi strauss virando semente
lourival holanda no silêncio
agostinho neto sendo avô
eliza lucinda lunando...

ud-din rumando*

miró se espremendo
marx manuscritando
mauss sendo dadivoso
frança em cima da mesa
minha mãe me amamentando.





Amamaíra Mahin,
Museo do esztado de pernambuco,
set ou outubro de 2009.