quinta-feira, 25 de outubro de 2012



Licença Poética

Careço tirar uma licença poética
E a acabo por tirar mesmo
Sem legitimidade
Na academia não me é aceita
Ou pelo silêncio ou pelo alarde
Docemente tentados
Orgulhosos e sublimes, docentes
Criam crimes dolorosos e afeitos
Rigorosamente os jeitos são delitos
Graves. Monolíticos entraves
Os patifes sorvem só o desacato
E prendem com mandato à detenção
Na frieza dos corredores
Desfilam o pouco poder
Reprovando a diferença

Guiné da Selva, 25/10/12. Caxangá – Margens.

manoel luiz



Manoel Luiz dos Santos, libriano, nasceu a 29 de setembro de 1926 no povoado Batatas do município de São José do Egito, no sertão pernambucano. Escreve e publica seus próprios almanaques, sendo o seu “Almanaque do Nordeste Brasileiro” o almanaque mais antigo em circulação no Brasil. Em 2012 completa 64 anos de publicações contínuas. Em nossa visita a ele em 2010, já tinha prontos, o do ano seguinte e o de 2012.

Almanaque, segundo Aurélio Buarque de Holanda: "Publicação que, além de um calendário completo, contém matéria recreativa, humorística, científica, literária e informativa.

“O almanaque é um gênero editorial, não um gênero literário”, afirma Bráulio Tavares.

Os almanaques, são parte importante da literatura de cordel. Populares nos nordestes do país, nas feiras, nos sertões; são parte de uma poética do campo; a relação com as chuvas, com as secas, solustícios, luas, eclipses... O plantil e o cuidado dos rebanhos...

Os almanaqueiros são profetas, poetas, religiosos místicos... Mistos ciganos, sem ser... Brincantes com o tempo, com a métrica dos versos, com a matemática orgânica do cotidiano ampliado

Manoel Luiz passou três anos cego, cego de guia,
mas não deixou de fazer seu almanaque
pedia ajuda da companheira Olívia,  
 "bamba" na pesquisa e na datilografia  

Hoje Manoel não paga mais gráficas, faz seus escritos e recortes, suas contas, gráficos, versos diversos, e vai na xerox... Sai mais barato e na hora; com a letra dele, o risco dele, a cara dele

Da madrugada. Quando criança gastava toda a Querosene Jacaré que o pai comprava; cara, preciosidade. O combustível permitia o luxo das letras e dos números do fogo interior refletindo debaixo do céu