segunda-feira, 28 de setembro de 2009

eucientistizando

Num domingo qualquer, os pais levaram a menina ao zoológico. Ela viu patos, e meninos, e macacos prego, e palavras, e orangotangos... Gostou muito dos jacarés. Teve medo e gostou. Quis ver mais tempo. Levou para casa. Aquele pedacinho de gente gostou tanto dos dentuços que riscou de giz de cera um corpão jacarenho na parede da sala de casa, de canto a canto. Brincou, e brincou muito de riscar a parede. Depois soltou o lápis e foi procurar outra coisa para descobrir. Na cozinha achou formiguinhas pequeninas bem diferentes das que tinha visto no zôo, ficou olhando o caminhinho indiano que faziam, descobriu que a casinha ficava numa fissura do azulejo florido, pensou como seria morar ali... Perto da torneira meio dourada da pia... Agora ela já tava quase fora de casa, era o quintal da casa. Ela encontrou uma pinha madura no pé. a pinha grande se esbagaçava naquele calor. A menina gostava de comer coisas brancas. Leite, aveia, iogurte, tapioca... Só não ia muito com a cara do queijo-qualho, gostava mais do queijinho amarelo de manteiga. Brincou na terra e depois foi lavar as mãos na cozinha, subiu num banquinho que já ficava posto para ela. Abriu a torneira meio doirada, a água assustou uma barata que saiu do ralo, a barata assustou de leve a menininha, mas não muito - A menininha era um 'moleque'. teve impulso de pegar a barata na mão, mas era um moleque bondoso, e achou, que era mais certo, a barata ser livre. A barata era voadora, saiu pela porta do quintal, a menininha era danada, acompanhou. O pesinho tava sujo, contrastando com o cor-de-rosa da "sandalhinha de princesa", e as unhas bem rombudinhas que o pai cortava de obsessão. A barata pousou pousuda perto do lixo orgânico que estrumava o jovem pé de pinha que já dava tanto. Ela achou bonito, a barata ser livre. Lembrou dos animais do zoológico... Eram bonitos, mas, com exceção dos jacarés, que pareciam sábios famintos, os outros pareciam bem descontentes com a jaula. Ela pensou que realmente não era bom estar preso, e que não gostava quando mandavam ela pensar sozinha dentro do quarto das tralhas. O pensamento dela tava voando... Um ventinho levou umas folhas do chão. Cadê a barata?! Perguntou a si mesma. - Eita! A barata! a lagartixa! Vai comer a barata!?... Era a coisa mais incrível, ela pensou. E lá estava a lagartixa com aquela barata engasgada, cheia de casca, agonizante... Aquela lagartixa pequena... Era igual o jacaré!
araraíra maria do nascimento,
Recife, setembro de 2009.