De como Laura conheceu Dulce.
Cidade de Flores, vale
do Rio Pajeú, Sertão do Estado de Pernambuco. A menina Dulce de oito anos de
idade perambula o centro, perto da feira, a mão passando dedinhos pelas grades
das casas granfinas, pega um hibísco e despetála, se encosta em um carro negro,
se adimira nos vidros, fica gordinha e torta na imagem da lataría e ri sem dois
dos dentinhos cerrados; é queimada do sol, acobreada, os dedos magros e abertos
e os cabelos secos de ondas; a mãe interpela transeuntes olhando nos olhos; com
os cabelos repartidos ao meio escuros de tinta, a camisa com babados na gola
canoa e mangas fofas e curtas num elástico que marca a curva que define o fim
do ombro, fartos os seios de quem amamenta na blusa sem tanto decote; pouco da
barriga aparece, a saia estampa um jardim, um lenço azul amarrado baixo o
ventre em v e vazado dá pompa a personagem que está despida de jóias; ganha uns
trocados de um senhor de chapéu, mas ele não permite que lhe leia a mão; “é pra
menina”, diz e aponta, junto com as moedas um pirulito de açucar queimado em
forma de quarda chuva; segura a feira e a mão da neta, quase a menininha dele parecia
com Dulce, elas se olham de longe com um sorriso amarelo sem tantos dentes.
Dulce no seu perambular, conhece uma mulher que pesquisa ciganos por aquelas
bandas, Dulce não sabe disso, não entende, fica olhando pidona e a extranha
pergunta o que Dulce quer, ela diz querer dinheiro, dinheiro não tenho, como é
seu nome, “Dulce”, diz, e pega na mão da moça.
Largas as sobrancelhas delas, percebe que a extranha tem cara de cigana,
pede a Dulce que a leve em sua casa, Dulce toda livre nem olha para mãe que se
ocupa em suas propostas de consulta. Vai até a casa do avô agarrada à mulher do
carro preto, dulce pergunta a moça por que ela fala diferente e ela diz que é
argentina. Chegando na casa a argentina do carro preto pergunta ao avô da
criança se pode dançar pra ele, liga o som na sala que o sol entra, ele sentado
perto da quina do corredor que dá pra cozinha, as paredes azul claras, no caminho
os quartos, no vermelho da dança sai um rapaz belo de um dos aposentos, é irmão
do pai de Dulce, mira desejoso os movimentos da toura na maré do sonho de de
tarde, no enfado do calor dalí. Voce é bonita, diz ele depois da dança dela, enquando
se encaminham à cozinha afim do café que ofereceu a velha que desconfiada fala
na língua cigana com a neta e depois inquere a argentina que ainda é
extrangeira; “como é seu nome”, Laura, responde vendo os movimentos da velha
que prepara café.
(da série, 'peixes e ciganos' - Junho. 2010).