terça-feira, 19 de agosto de 2014

parto

és já uma pessoa
acolho, nos acolho
sou já tua mãe
sem saber o que é sê-la

e não sou

segue em nós a real proposta de tentar
uma a outra, experimento, amor
segue conosco essa possibilidade de conhecer
de saber

é já e sempre, forma e fio
trazendo o tanto que temos
e a soma nos faz

os nossos olhos são dentro, o nosso encontro
prisma

e quando o parto nos dividir
é que sentiremos mais
o que nos une

iara

sereiazinha
no supremo líquido
pesando à sair das águas
à morar nas terras
à seguir estradas

sereiazinha
de lugar verdinho
no meu encontrar
de canto e luar

fica um pouquinho
vai sair já já
e mamãe bobinha
nem aproveitou

peixinha peixinho
veio e se molhou
seio se inundou
olho marejou

barco boia bola
mala de maré
me plantou menina
pra nascer mulher


esmeralda

sino anuncia tua chegada
dourada
terra melhor, tua morada
esmeralda

verde que vem, verdade esperada
flor de lindeza na luz da estrada
viva, florida, visita almejada







sábado, 16 de agosto de 2014

<>

"olá, sinhá. Escreve uma poesia linda pra mim!
Mas tem que ser uma poesia de amor,
sem essas coisas de medo, pânico ou hesitação.
Pq eu renasci e sou um poeta menino,
novinho feito o carneirinho de São João."

Poeta menino,
já que eh menino,
e todo menino sabe,
que em matéria de amor,
e todo menino sabe,
que amor só o próprio.

Poeta menino,
e já que eh menino,
sabe que só,
e se sabe
de não saber,
que se sente,
e sente soh,
e dispensa o que excede o simples prazer.

E tudo para,
e tudo move,
quando brinca e eh leve.

E quando guarda sempre explode..
Feito balão, feito pipoca, feito minhoca.

2013

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

aqui

jaz as velhas formas
reforma
ri da velha casca
descasca
chora nova flora
renasce

forma de pedreiro
zum de mariposa
flor de cólon



trovas ligeiras

minha poesia vinga
topa na tua e se faz 
de morenice coringa
de tempo que se refaz

a minha prosa morena
é prosa que vem da terra

bate firme, estronda o chão

é verso também de água
que sente, escorre e derrapa
lama de meditação

minha prosa é suspensa
no universo lançada
de mistério imbuída
de lua eclipsada

A ti, reverso dragão,
aguarda nudez que veste
não tenho língua nem força
a mudança me reveste

me guarde com todo zêlo
que lambido tenho o sêlo,
e de ser já não sou mais...

jarra dágua misturada
salga de lua mudada
ribeira, beirando cais

cigarra nua, sem capa
Porta, flor de aldebarã
torre dupla que te escapa
de transcendente Tehran

tu, meu pássaro cupido,
corrente de rio comprido,
me afaga, gemido, sopro

de cada ovo uma cria
Presente que alumia
na amplidão lá do topo

és príncipe vespertino
timo tino de estrela
tudo tens, sabes quem és
tua verdade revela

sendo ovo, ave , lua
lupino uivante, vento
és um devoto da rua
entendes cada elemento

cigano real, proscrito
lá do povo do Egito
companheiro de Antão

eu igual sou do deserto
e sinto teu vento perto
me desvelando refrão

sete véus, sete couraças
toque sutil, e da graça
de deus, vais me entornando

Se oro é porque sinto
uma semente absinto
rompendo a casca, brotando

Eu sou cigana segura
no peito uma pedra dura
e armadura de cobre

tu és homem de vitória
que gosta de muita estória
Pois a minha é muito nobre

tenho alma no cinismo
e de vez em quando cismo
me escondendo no solo

me casulo, me abismo
procurando o misticismo
na terra buscando colo

é rico encontrar parceiro
que eu segure o cabelo
e que galope comigo

que não me troque em camelo
que traga na testa o selo
de companheiro, de amigo

Deus queira que Sara Kali
nos indique bom caminho
pois já sigo iniciada,
embriagada do vinho.

de mim

bolinha bolinda
molinha molinha
dançadeira
capoireira
na minha malinha

barriga balinha
embrulhada
embrulhadinha
em toalha de carninha
carmim

minha flor roxinha
minha floridinha
minha ciganinha
de mim