quinta-feira, 17 de junho de 2010

virgo

Nublava muito; a tarde e deusinha, ela dos olhos negros e redondos, mastigava o líquido e bebia o sólido numa macrobiose verdadeira e xiita; se entendiam os sumos e por dentro as contrações da espera remexiam em danças aquáticas. Observava os sapos lunares e dava leseira o coaxar e o desespero elétrico da cigarra. Quase tudo dava uma brisa naquela altura do campeonato. Era o sono e a vontade de urinar, naquele tempo úmido cor de peixe-boi. Humores, sumos, alimentos, deusinha do olhar languido; preenchidas as entranhas. Compreendera de algum modo que tudo havia mudado depois de que de repente lhe surgira no corpo algum jeito termal mais acentuado que lhe dava ganas de se coçar nas cascas grossas dos pés-de-pau, de ver nos espelhos fluidos sua própria tremulação cintilante, de se deixar montar.

Deuzinha perto da foz, à água empoçada das ramas de capim, o chuvisco na pegada dela, no sulco da terra adubada; ruminava, canção azul de labor, e pensando em nada trabalhava a estranheza das coisas vivas que cresciam agora por dentro, o temporal silencioso dos olhos redondos chovia no molhado.

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