domingo, 24 de novembro de 2019
Pensando sobre elxs
quarta-feira, 13 de novembro de 2019
Cantiga pra Esmeralda dormir
terça-feira, 23 de julho de 2019
Idade da pedra
Fuça um saco
Lambe um lixo
Come sem asco
Comum bicho
Enquanto ela, a cadela, masca
uma pele de frango
O companheiro observa
Assegurado rango
Ele cheira a pele que sobra
do que ela janta
Mas não come
Ela retorna e garante
Da noite o derradeiro lanche
Na noite chuvosa
Sem gente na rua
A selva sobrevive no lixo
O bicho domesticado
Que solto vive
Formando matilha
Na ilha da cidade média
Medíocre
Na cidade da pedra
Somos desprezíveis
E essa família de cães
É a coisa mais digna da noite
segunda-feira, 24 de junho de 2019
Fogo
Velho fogo
Me protege e guia
Me limpa
Me transforma
Sábio avô
Xangô
São João
Fogo que liberta o peito
Quentura boa
Aquece o caminho do abraço
Fogo voínho terno
Carinho eterno
Inácio, José, Manoel
Aqueles que nem conheci
Pais dos pais dos pais
Dos avós, dos mais
Aqueles nem datados
Do passado ancestral
Sabedores antigos
Dos umbrais
Que o fogo universal nos conecte e cure
Vossos corações amplos e esquecidos
Sejam aquecidos
E em nós, seus ramos
Sejam amor
Pleno e livre
Corajoso e renascido
Morcego
Naquela noitinha o sino bateu
E o morcego que me abrigava
Levou com ele um pedaço
Me senti perdida
Não dava pra saber bem
O que ele havia levado
O sino badalou bem na hora
Ele sacudiu as asas no vento, na noite,
Entre as folhas dos pés de pau
Uma sombra volante
Levou aquela parte
Poderia dizer que foi a alma que levou
Porque meus olhos ficaram dispersos
Passeando pelos sentidos
Mas ainda uma parte guiava
Meio cega, buscava guia
Agarrando pequenos sinais
Me experimentei na inocência
Quis cada colo
Com medo dos monstros
Receosa do mal
Envolta de Lua
Com o gosto do Caos
Mãe-Pai
Cadê meu envoltório?
Me senti desprotegida
ao mesmo tempo
tinha uma aura de coragem
Naquela loucura
Tinha um coração se buscando
Tinha uma procura ativa
Na raiz do medo
Tinha eu
Feito uma Batgirl
Abraçada pela grande mãe morcego
Ou pelo Diabo
Ouvindo as badaladas
Me acordando à sombra e luz
No útero um estampido
Revolvendo a Xamã
Na morte vida
No fio da Terra
Na Grande Mãe
terça-feira, 16 de abril de 2019
Fatias paridas
Qual leite que foi fervido
Poema esterelizado
O boi coletivo é gado
É gado o boi coletivo
Sangra feminino fado
Sangra fardo feminino
Sofre o meu palavreado
Pela a falta de refino
Não tem sentido nem dá
Não dá nem sente o sentido
Um poema desprovido
Gato que foi escaldado
Bicho amojado, parido
Verso do avesso assanhado
Nublando e obstruíndo
Chuva poesia escura
Umbilical, entranhosa
Auto referente cura
Aparente, receosa
Na metade da verdade
Uma cantiga contida
Passiva agressividade
Mas que permanece viva
terça-feira, 9 de abril de 2019
Verve de vaca
Não venho conseguindo
aquela poesia clara
didática e viável
que aponta, descreve e diz
critica e dá nome aos bois
E tá algo assim
Sem endereçar sentido
E é sem ser que tem sido
Menos grito e mais mugido
Verve de vaca
Menos letreira, mais leiteira