O Milagreiro Quebra-Osso
eo romance de Mabel e Toríbio Fortes
Eu
vou contar a história
Dum
caso que aconteceu
Há
mais de 50 anos
E
que comigo mexeu
É
a história de um casal
Que
ficou amigo meu.
Não
sei se alguém já leu
Nenhum
livro foi escrito
Mas
quando eu fui escutando
Fui
achando tão bonito
Que
não podia deixar
No
dito pelo não dito.
Eu
aqui ainda cito
O
dia em que os conheci
Naquela
noite chuvosa
Perto
do Tucuruvi
No
bairro Vila Mazei
Naquelas
bandas dali.
Com
a minha vó, tava ali,
Com
Saura, e a prima Aninha
Também
tava o primo Henrique
E
a minha tia Kinha
Esperando
numa fila que
Outras
pessoas tinha.
E
outras pessoas vinham
Procurando
alguma cura
Pra
seus problemas de ossos
Pra
sua desestrutura
Pra
melhorar a cifose
E
aumentar na altura.
Era
um senhor sem frescura
O curador
do lugar
Com
uma roupa de esportista
E
um tênis all star
Disseram
que havia sido
Da
polícia militar.
Continuando
a contar
O
senhor que descrevia
Teve
um problema grave
Que
doutor não resolvia
E
o milagre da cura
Foi
com quiropraxia.
E
essa tal praxia
Pra
ele virou missão
Tendo
aprendido o ofício
Tinha
uma coisa na mão
E
essa coisa era a cura
Que
hoje oferta a todo irmão
E
virou religião
A
promessa do senhor
Que
aprendido o bendito
Ofício
que o curou
Ele
o ia divulgar
Como
graça ao salvador
E
com as mãos de amor
O
homem vem estralando
As
juntas de quem lhe chega
Pela
fila lhe esperando
E
chega o povo bem torto
E
ele saí concertando.
Parece
que vai quebrando
Lhe
apelidam “quebra osso”
Às
vezes tem um gritando
Dizendo:
“calma Seu moço”
Mas
quando lhes passa a dor
Querem
encher o seu bolso.
O
fato é que o “Quebra Osso”
Que
estrala tão ligeiro
Trabalha
pela promessa
Não
pela voz do dinheiro
Porque
se ele quisesse
Ele
virava bicheiro.
Mais
parece um milagreiro
De
tanta gente na porta
Tem
gente que vem tão mal
Que
a nossa alma corta
Mas
o tal do “Quebra Osso”
Vai
ali e desentorta.
Somente
o que o conforta
É
o corpo em harmonia
O
esqueleto certinho
Sem
nenhuma cirurgia
Pois
só o que ele critica
É
a tal alopatia.
Que
qualquer Dona Maria
Que
chegue a um hospital
Com
dores em suas juntas
O
doutor diz: “estás mal,
O
jeito é cirurgiar
Na
anestesia geral”.
Eu
digo que esse mal
O
milagreiro abomina
E
aconselha a seu povo
E
a ninguém discrimina
Pois
todos têm o direito
De
ficar com tudo em cima!
Mas
eu me perdi menina,
Da
outra história importante!
Ia
contar pra vocês
Outra
coisa nesse instante...
Espera
que vou lembrar...
Não
preciso ir tão distante.
Então,
seguindo adiante,
(Lembrei
o causo qual era)
Naquela
fila engraçada
Não
foi coincidência mera
Encontrar
aqueles dois
Ali,
numa mesma espera.
Uma
coisa a outra gera
É
a lei da atração
Encontrei
aqueles dois
Em
silenciosa oração
Cês
vão ver como deu certo
Como
entraram na canção.
Eu
pensando: ‘Eita mundão
De
coisa linda pra ver
Só
basta ser a janela
Para
o dia amanhecer
E
depois de amarela
Virar
azul no saber.
E
tudo a acontecer,
Sem
uma ativa procura
A
brincadeira existindo
Com
as asas na loucura
Uma
loucura de ave
Que
eleva a vida à altura.
Pois
eu estava segura
E
na busca do presente
Sabendo
que tinha algo
A
me dar aquela gente
Sabendo
que a mão da troca
Não
era tão diferente.
Foi
então que de repente
O
casal veio ao destino
Um
senhor que alegremente
Cantava
um tango argentino
Em
uma veste alinhada
E
com ares de menino
Estava
muito granfino
Feito
cantor de bordel
Um
terno preto listrado
Só
lhe faltava o chapéu
E
ao lado a sua esposa
De
nome: Dona Mabel
A mão
de dona Mabel
A
cavucar pela bolsa
Procurava
um retrato
Do
tempo em que era moça
Um
retrato bem antigo
Que
ela guardava zelosa.
Um
maiô bem elegante
a
trapezista vestia
preto
e branca no retrato
colorida
na magia
do
tempo em que trabalhava
num
tal de Circo Garcia
recordava
apontando
o
retrato situado
recordando
inclusive
como
havia começado
essa
vida estradeira
com
Toríbio, seu amado
nas
terras da Paraíba
Campina
Grande a cidade
Foi
onde começou tudo
Com
muita propriedade
Uma
cigana dizia
Que
ela dali saia
Por
causa de amizade
E
um dia, dito e feito
Chegou
por lá um rapaz
Leitoso,
cabelos pretos
olhos
cheios de sinais
pelos
mistérios destinos
das
suas sinas gerais.
Ele gostou da donzela
Fixamente a olhou
E a face enrubecida
Pelo olhar que a penetrou
Corajosa e discreta
Um outro passo esperou
Ele foi ao seu encontro
Não sabia o que dizer
Se sentindo apaixonado
Quis com a moça viver
Pediu logo em casento
Pelo medo de perder
Como ele era do circo
medrava a rejeição
Inventou umas mentiras
naquela situação
Pabulando um outro ofício
Que apresentasse mais chão
Mabel, cabocla faceira
Em Toríbio apostou
Não que ela acreditasse
Em tudo que ele falou
Mas era crente às palavras
Que a cigana professou
O pai dela era valente
velho brabo e ciumento
Queria filha nenhuma
Arranjando casamento
Com forasteiro enxerido
Don Juan, mal elemento
Consciente da resposta
De seu querido paizinho
Mabel, que era decidida
A seguir o seu caminho
Embarcou na aventura
Dessa troca de carinho
Fugiu com o viajante
Virou moça desonrada
E nesse caminho errante
Já tripulando a estrada
Uma verdade secreta
De pronto foi revelada
"A minha casa é o circo
Não sou rico nem doutor
Temia que se dissesse
Estremessesse o amor
Mas nesse momento digo
Inda queres vir comigo
Ou vais me deixar na dor?"
"Dá tempo de desistir"
Mabel refletiu - será?
Se eu voltar desonrada
O meu pai pode me matar
Eu já ousei na coragem
Não quero mais arriscar
E foi-se embora Mabel
Fazer da estrada a sina
Deixou a vida de moça
Os pais, a casa, a campina
Já ae sentia mulher
Carregando uma menina
Dali foram muitos circos
Que essa dupla enfrentou
Tiveram filhos os dois
Uma equipe se formou
Criaram seu próprio circo
Não era pobre nem rico
O universo ajudou
Com a família formada
Voltaram para Campina
Mabel fora perdoada
Pela saga peregrina
Seu pai e mãe viram festa
Cada neto uma seresta
Refiguravam a sina
Turíbio a mãe recordava
Uma Índia Guarani
Cabelos negros da noite
Feito a valente Anaí
Viveu as dor do desmundo
Mas deixou um tom profundo
De força pra o conduzir
Lembrava ele dos traços
Do rosto da mamãe sua
Da verdade que trazia
Em sua beleza crua
E do cansaço vigente
Que embebia o presente
Na lembrança que situa
Essa ancestralidade
Os dois traziam em si
Sendo Mabel sertaneja
Uma cabocla daqui
Em sua face trazia
Uma invisível etnia
De outra ramagem tupi
Enfim, contei deste encontro
Como tantos outros são
Entrelaçados a outros
Unindo cor e canção
Tendo a história na bagagem
Busco no verso ancoragem
Pro barco ter direção
Tenho admiração
Por trajetórias assim
Histórias vivas reais
Que chegaram até mim
Que em momento me encantaram
E por aqui se contaram
Virando verso no fim
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