sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Ciclos

Queria poder assumir meu eu cigano
Mas não tenho provas

Queria poder assumir minha África
Mas não tenho a cor

Queria assumir meu sangue indígena
Mas me roubaram esse direito

Tenho um buraco
cheio de nomes e sobrenomes

Se assumo a mistura corro o risco
De suprimir os privilégios

Se nada assumo fico feia
Em cima do muro

Nunca fui afeita à apatia
Não fosse a doença

A onça magra me caça
Morta pelo ancestral errante

Eu tateio tudo
Muda na avalanche

O século é da estrela
É a estrela é o Sol

A lua muda comigo
Somos apenas ciclos

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